segunda-feira, março 28, 2011

JORNAL 'O GLOBO' : A SURPREENDENTE EDIÇÃO DE DOMINGO


                                               EM BUSCA DA VERDADE


Definitivamente o clamor  das massas árabes sopra  ventos de liberdade sobre as folhas de papel que transportam noticias pelas nossas terras tupiniquins. O maior jornal do país surpreendeu, na edição de domingo, repercutindo opiniões divergentes do script produzido nos laboratórios de marketing politico de Whasington para justificar os bombardeios da força de coalizão contra o território líbio.

O caderno "O Mundo"  estampou matéria de titulo "Bombas de efeito moral...ou economico" chamando o leitor á uma reflexão isenta e abrindo caminho para um descomprometido questionamento do arsenal de justificativas  para o ataque, liderado pelos EUA e seus aliados, contra o país dono da 7ª maior reserva de petroleo do mundo ( fonte OPEP).

"O Globo" resgata o "papel de um jornal", e vai alem da mera reprodção de  opiniões e artigos dos "especialistas", passageiros cativos dos tanques de guerra do pentágono que viajam por roteiro previamente encomendado á opinião pública internacional.  Ao buscar  vozes discordantes sobre razões do conflito,o jornal presta grande serviço ao jornalismo independente ,embora discorra sobre uma desnecessária interpretação juridica de resoluções da ONU sempre usadas para dar aparencia de legalidade ao assalto de recursos naturais alheios,como no caso líbio, baseados na interpretação do direito internacional que só enxerga justiça quando atendem os interesses dos EUA e não condenam Israel pela violação dos direitos humanos do povo palestino. A decisão unilateral dos EUA de invadir Iraque sem "autorização" do Conselho de Segurança da ONU desqualifica a seriedade do debate juridico.

A incoerente retórica humanitária no caso Líbio é despida pelo resgate e comparação de registros históricos dos conflitos contemporaneos,  como da  Costa do Marfim e nas atuais  insurreições populares  na Arábia Saudita, Siria e no Barhein, denunciando que os principios morais da ONU são usados de forma seletiva,opinião que  já haviamos manifestado neste blog.

Para coroar a edição de domingo, o jornal "O Globo" veicula os artigos dos jornalistas Dorrit Harazim com o titulo "convém olhar para o chão" nos levando á um passeio pela colossal estrutura de guerra das bases militares dos EUA, verdadeiros "fortes apaches" instaladas em países cujos territórios estão as maiores reservas de petroleo do mundo -exceção do Irã e da Venezuela- e que tem em comum o fato de serem ditaduras aliadas dos Estados Unidos no Oriente Médio.

A mesma edição repercute artigos que se conectam e são assinados pelos jornalistas do New York Times Larry Rohter e Mark Landler. O primeiro virou celebridade nacional e transformou-se  em uma espécie de "ícone do jornalismo anti-esquerda" ao dizer que o presidente Lula bebia demais e ao trabalhar na desconstrução de personagens ligados as causas populares como Hugo Chaves,Evo Morales, Rigoberta Menchu  e até do cineasta Oliver Stone. Se perdeu popularidade entre a militancia da esquerda latina ,ganhou credito legitimando o conteudo do artigo que questiona a pouca importância dada por Hollywood ás relaçoes do islã com o ocidente,e nas entrelinhas, denuncia a cumplicidade da industria cinematográfica americana com a globalização dos interesses politicos e economicos dos EUA,ao "satanizar" o mundo islamico.      Nada de novo ,se lembrarmos do gigante ator americano Marlon Brando  que jogou agua no choop na  festa de Hollywood em 1973 quando se recusou a receber o Oscar e em seu lugar mandou  subir ao palco a índia Shashen ,sob o argumento de que a industria do cinema foi tendenciosa com os interesses dos indios americanos.  Anos mais tarde Marlon Brando acusou os estúdios de Hollywood de produzirem filmes com  conteudos  que manipulam a cultura das massas interferindo na formação étnica das nações para atender os mesmos interesses politicos e economicos dos EUA. Sumiu das telas.

As produções americanas concentram-se em personagens americanos que via de regra são os mocinhos e quem não se alinha com suas ansiedades e ambições é retratado como o vilão.

O artigo não deixa dúvida de que Hollywood é uma arma do poderoso arsenal midiático do Tio Sam.

Já Mark Landler de trajetória profissional que passa longe de polemicas, tem formação em licenciatura diplomatica e  na area financeira, fornecendo á sua analise no artigo um carater pragmatico e sem maquiagem do processo em marcha nos países árabes.  Os gritos de democratização dos países com protestos e  manifestações populares podem levar á uma nova configuração geopolitica regional com grandes chances de deslocar a influencia dos EUA dos centros de poder  no Oriente Médio obrigando Israel a rever suas estratégias de segurança.  Landler demonstra que o renascimento árabe pode ter impacto na ordem global com implicações nos fluxos comerciais de petróleo ,calcanhar de aquiles das nações mais ricas do mundo, o que tambem explica a futura ocupação da Líbia ,desta vez com a França ,Gra Bretanha e Italia na linha de frente ,gerando um quadro de incertezas em relação ao futuro ,diante de um contexto politico complexo,delicado e agora dinamico daquela região.

As rajadas de vento da liberdade sopram no mundo arabe e podem derrubar ditaduras republicanas ou monarquicas. Mas quem irá substituílos? Se prevalecerem os interesses dos EUA as ditaduras serão substituidas por outras tão ou mais tirânicas, revestidas com roupagem politicamente correta...

Na edição de domingo o jornal "O Globo" foi um grande jornal!




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