sábado, abril 16, 2011

Contra o odio e o preconceito repudio ao massacre na Noruega

                               AL CORÃO


     Alguns órgãos da imprensa liderados pela revista 'veja" e em cega obediência á embaixada dos EUA - conforme revela documento divulgado pelo site Wiki Leaks - fazem campanha aberta para estimular o preconceito e  a discriminação religiosa no Brasil, veiculando matérias para rotular a leitura do Al-corão como algo proibido ou condenável.   O "terrorismo midiático" contra o islamismo tenta incitar o ódio religioso como estratégia diplomática clássica e eficiente, usada pelos EUA na arte de  "dividir para dominar",  que consolidou o poder da Casa Branca  no centro das decisões politicas do Oriente Médio.   Estimular o sectarismo religioso em nossa terra, será tarefa fácil  para o "Tio Sam" e seus vassalos midiáticos?   Terão que enfrentar uma legislação inequívoca que consagrou a liberdade de seguir ou deixar de seguir religião ou opinião como direito fundamental humano.  O texto constitucional que legitima esta pluralidade religiosa nasceu da soberana vontade do povo brasileiro.   No pacote terão que importar , a "lei anti-terror" e o terrorismo para justificar sua implantação, com todos acessórios, incluíndo a supressão de direitos e garantias individuais assegurados a todos os cidadãos brasileiros pela Constituição brasileira.

Tentar estigmatizar o Al-Corãn , para mim , só despertou a curiosidade de ler o livro sagrado islâmico,com novo olhar.
 Brasil:diversidade religiosa
Ao longo da vida, tenho buscado  informações em livros de fontes variadas, jornais, revistas, assistindo documentários e acompanhando noticiários sobre tudo que se relaciona com os árabes, sua história, costumes, culinária e religiões.   Brasileiro, mãe brasileira, pai nascido na Síria, país onde vivi por seis anos antes de conhecer o Líbano, Egito, Marrocos, Jordânia e os Emirados Árabes, consumi centenas de produções literárias e cinematográficas  para constatar que mais da metade delas é panfletária e tenta demonizar os árabes islâmicos no ocidente.   A base da minha compreensão do mundo árabe,  em suas nuances e detalhes, foram cinquenta anos de convívio com este povo que tem em sua rotina o zelo por suas tradições, valores éticos e morais.  Em país árabe você não verá o "dia do hallowin",mas poderá se divertir com o "dabki", dança milenar típica dos árabes. 

Tenho, na estante da sala de casa, exemplar do Al-Corãn com cento e oitenta anos de existência, herança familiar de várias gerações.    Apesar de, por muitos anos, raramente ter passado os olhos em suas páginas, conservei o solene respeito durante o manuseio do livro, pela sua áurea sagrada,  tendo herdado de meu pai o hábito de lavar as mãos antes de remove-lo.  Para limpar a poeira da estante e nas vezes que o toco o livro sagrado islamico, levanto-o até os lábios para beija-lo antes de leva-lo suavemente á testa em sinal de submissão.   Assim tenho honrardo a memória de meu falecido pai e a condição de guardião de um patrimônio da família, embora, como diriam alguns íntimos amigos gaiatos eu tenha "me afastado de Deus", por não rezar, frequentar templo religioso ou praticar atos próprios de um bom fiel.    Sempre vi as religões como legítima manifestação cultural das nações do mundo, como de fato são, esquecendo a ótica  teológica de suas mensagens, tolhido pela minha ignorância e limitação diante das coisas de Deus.   Minhas raras incursões na leitura de livros religiosos valorizavam textos alcorânicos, bíblicos ou do pentateuco como fontes históricas capazes de mostrar circunstâncias e  contextos geo-econômicos-sociais de locais e de épocas onde se desenvolveram  suas narrativas.    Não há como negar o impulso ás realizações humanas  ocorridas no rastro da expansão das religiões que difundiram, em vários momentos da história, conhecimentos científicos e tecnológicos.   Textos religiosos orientaram o comportamento social desempenhando papel crucial  na contenção dos impulsos individuais e coletivas. Tambem garantiram a harmonia requerida por civilizações que buscavam prosperar, mesmo diante do fracasso das leis construídas pelo aparelho estatal.    No entanto, existem e existiram distorções das escrituras sagradas com interpretações que se "adequavam" ao "poder da hora"  manipulando multidões para atender interesses de reis e reinados resultando em conflitos, violência, guerras e ressentimentos, conservados por grupos e "sociedades  secretas" em cultos e rituais medievais que resistem até hoje.

Brasil diversidade racial e religiosa
Somos produto da miscegenação, mistura de todas as raças e nossa brasilidade é transmitida por um vocabulário composto de várias linguas. Sou brasileiro genuíno, compartilho alegrias, tristezas e preocupações com amigos católicos, muçulmanos, evangelicos, espiritas, judeus, ateus, agnósticos e umbandistas, somos compatriotas.  Já orei em mesquita, rezei "pai nosso" na catedral ,"aceitei Jesus" no templo e "bati cabeça para Vovó Miquelina" na curimba ao som dos atabaques tocados pelos "ogans".   Acho que o templo de Deus não está entre quatro paredes feitas de tijolos e a frieza do concreto.  O templo de Deus está  no calor dos corações das pessoas de bem que respeitam todas as formas de manifestação da vida humana voltadas para sua preservação.  Somos  berço de sincretismos religiosos nascidos da mistura de índios, negros, brancos e asiáticos.   Somos a " raça mestiça".   É exatamente neste  grande mosaico étnico, cultural, racial religioso do planeta é que está enraízada  a identidade do povo brasileiro,  carregada pela  sutileza de seu gingado e pela "malandragem" de quem cultiva um convívio harmonioso com as diferenças, usufruindo a paz que isto proporciona.   O bambolé tupiniquim exercitou o jogo de cintura nacional credenciando o Brasil como como interlocutor da paz universal e mediador de conflitos na comunidade internacional.   Somos o país do carnaval e do futebol.  A capacidade do brasileiro ultrapassou as fronteiras de nosso território e do preconceito fazendo deste país uma potência economica respeitada no mundo .  Somos um dos 6 mebros do BRICA ( vai mudar a sigla com a entrada da África do Sul).  Chegamos a uma posição de destaque sem trazer na bagagem o derramamento de sangue registrado na história das guerras Russas, a mão de ferro do regime Chinês , a divisão social  por castas da India e a triste mancha do aparthaid na África do Sul.   Subimos no pódio pelo puro talento do trabalhador brasileiro.   O mundo nos respeita  porque  demos nosso "jeitinho" de garantir a todos humanos a capacidade de gozar liberdade sem distinção de qualquer espécie seja ela de raça, cor, sexo, idioma, opinião política, nacional, social ou nascimento.

Este país verde e amarelo, celeiro de todas  culturas , não abriga em seu  território proibição á qualquer forma de expressão religiosa.   Brasileiro é  universal, cidadão do mundo e mundo de todos  cidadãos.   Aqui nós constituímos a vasta família humana, berço da tolerância e de raças multicoloridas ligados por sentimentos de solidariedade, fraternidade e da compaixão humana.  Nossa língua, costumes, cultura e tradições são manifestações de múltiplas nações que se fundem e se confundem em nosso convívio e rotina social , fazendo de nossa brasilidade a face mais autêntica da confraternização humana, uma realidade, que é , ainda, sonho na Declaração Universal dos Direitos Humanos para a maioria dos países do mundo.
Não será tarefa fácil aos que tentam semear o sectarismo e o ódio religioso entre nós. Terão que destruir a membrana protetora formada pelo tecido de todas as civilizações que envolve a integridade nacional e territorial do povo brasileiro.   Terão que destruir a alma do Brasil.
Mas eles estão tentando...

Da infâme campanha da revista "veja"  restou a curiosidade, passei a desfolhar mais atentamente o  Alcorão (versão em portugues).  A leitura revelou abismo entre o conteúdo dos versículos e a distorcida interpretação dada pela mídia ocidental.   Entretanto, foi surpreendente perceber , que em muitos anos absorvi textos e publicações de fatos e habitos culturais ditados pelo marketing comercial, de qualidade duvidosa  e consistência que tinham o mesmo tempo de validade de um iorgurte, enquanto repousava silencioso em minha estante, um livro de cento e oitenta anos de existência  e conteúdo escrito a mais de mil e quatrocentos anos.
Al Corãn textos milenares
Imagine ao seu alcance a fiel e autêntica reprodução dos pergaminhos milenares escritos na longínqua aldeia dos coraichitas na Árabia Saudita há mais de mil e quatrocentos anos passados?! Escritas com palavras que se mantiveram intactas por tradução fidedigna de seu significado incólume e inalterado  ao longo de mais de um milênio e meio de mudanças da civilização! O Alcorão engloba compilações reveladas  pelo anjo Gabriel  ao profeta Maomé- Muhamad- durante 23 anos  entre o ano de 610 e 632.   A palavra "Qur'an" significa "leitura" ou "recitação" e tem 114 capitulos chamados de "suras".   Seus textos foram unificados e são expressos em forma de versos e prosas trazendo, em muitos aspectos, um conhecimento milenar que sómente agora começa a ser usado pela civilização moderna. Um exemplo marcante, é a campanha feita pelo governo estimulando mães a amamentarem no peito seus bebês pelo tempo mínimo de dois anos.  O Brasil lançou uma Campanha Nacional de Doação de Leite Materno visando medida profilática de doenças infantis.

O que parece  novidade nestes tempos de internet já era ensinado na pagina 37 do Alcorão  na sura  al Baqarah que diz: "234. E as mães darão o peito á seus filhos durante dois anos completos...". A rigorosa observância dos textos corãnicos concebidos em tempos de um passado tão distante, induzem á uma equivocada idéia, que seu conteúdo esteja em descompasso com um mundo digital, cibernético e de grandes inovações tecnológicas. Mas suas referencias são atuais, falam do comportamento humano, familiar e social condenando práticas nocivas á humanidade no passado, presente e no futuro como, por exemplo a corrupção de homens públicos.  O Al corão condena o corruptor e o corrompido.  Isto fica claro na sura al Baqarah  pagina 30 quando diz: "189 -E não consumi a vossa riqueza entre vós próprios por meio da falsidade , e não a ofereça em suborno ás autoridades para que vós possais consumir uma parte da riqueza pública com injustiça".    Seriam estas razões que justifiquem a campanha contra a leitura do Alcorão?   Não tenho pretensão de falar sobre este tema com ares de sabedoria, porque já confessei a minha ignorância, apesar dos 50 anos de convívio com esta cultura.  Por isso sugiro uma pequena reflexão, caro companheiro leitor deste minúsculo blog: Se eu sou ignorante no assunto, imagine quem só busca discuti-lo com base nas informações divulgadas pela revista "veja" ou pela otica da extrema direita raivosa

O Al corão tambem é fonte de consulta de grandes pensadores como Paulo Coelho e  Oscar Wilde que extraiu dos livros sagrados uma de suas antológicas frases: "Projetamos nos outros aquilo que temos em nosso coração" .  Mas é um dos livros encomendados pelos tradicionais detratores do islamismo, escrito por Bernard Lewis ,Professor emérito de Estudos Orientais na Universidade de Princeton , nos EUA, é que a verdade se revela expondo o papel histórico desempenhado pelo islã na preservação e propagação da diversidade cultural humana baseado no respeito e na tolerância diante das diferenças. No livro "O Que Deu Errado no Oriente Médio, 
Bernard Lewis afirma :

 malê islamico em 1835

"No auge do poderio islamico,apenas  uma civilização lhe era comparável em nível ,qualidade e variedade de realizações; tratava-se da China. Mas a civilização chinesa permanecia essencialmente local ,limitada a uma só região, a Ásia oriental, e a um só grupo racial. Era exportada em certo grau mas apenas para povos vizinhos e aparentados.
O Islã em contraposição,criou uma civilização mundial, poliétnica, multirracial,  poderiamos dizer até internacional".  Fica clara, portanto,  a profunda identidade histórica entre o Islã e a nação brasileira que souberam transformar a capacidade humana, independentemente de suas origens ou convicções em conquistas para a civilização humana.  O islã e o Brasil representam a "Globalização" da fraternidade que preservam as diferenças culturais dos vários povos  como riquezas da humanidade. Isto esta nas raizes da historia nacional.
  luta dos negros islamicos  pela  liberdade 


Quando aconteceram os primeiros gritos de liberdade no Brasil dos tempos do Imperio escravagista em Salvador na Bahia, foram forjadas as raízes da luta pela liberdade dos escravos. Falo da revolta dos malês em 1835. O movimento liderado pelos negros malês, islamicos que se rebelaram contra a tirania da escravidão de seus irmãos, iniciou-se com a tentativa de imposição de uma religião que não professavam.  Apesar de serem livres, conhecidos como "negros de ganho" (alfaiates,comerciantes,artesãos e carpinteiros)  não aceitavam a escravidão a discriminação racial e a intolerância religiosa.  Usaram os versículos alcorãnicos para reafirmar a defesa de uma sociedade justa e igualitária baseada na liberdade e tolerância.  
O conceito da tolerancia e o respeito as diferenças está escrito em uma das mais belas paginas da historia do Brasil.
O respeito á diversidade está na alma do Brasil. 


  







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