sábado, março 19, 2011

EUA E A SOLIDARIEDADE SELETIVA

         A intervenção americana e europeia na Líbia ,sob o nobre argumento de "proteger os civis" daquele país das intransigencias de Gaddafhi , nos leva á uma reflexão e a uma "pergunta que não quer calar"

         Porque este espírito  de "intervenção solidária" não se manifestou com tanta eficiência , quando outras populações civis e desarmadas foram vítimas de hediondos massacres impostos por tiranos,tão ou mais cruéis que, o agora descartável, ex- aliado Líbio? 

       O massacre em Sabra e Chatila ,que tive oportunidade de conhecer em 1983, na parte ocidental de Beirute, teve em uma só noite mais de  4.000 pessoas brutalmente assassinadas , a totalidade civis desarmados,compostos por mulheres,crianças e idosos. Hospitais foram invadidos ,doentes enfermeiras e médicos executados a sangue frio. O único pecado das vítimas ,foi terem nascido Palestinos, e estarem vivendo em  acampamentos de refugiados, em terras alheias gerando desconforto aos seus anfitriões.    Tudo aconteceu diante dos olhos vigilantes e atentos da 6 ª Frota Naval dos EUA estacionada no Mediterrâneo litoral do Líbano, com o comando militar americano, munido de informações do serviço de inteligência que previa o massacre, aguardando de prontidão.


O que dizer do ano de 1994 quando ocorreu o massacre da etnia Tutsi pelos Hutus em Ruanda onde se calcula que  500.000 pessoas foram assassinadas e quase cada uma das mulheres que sobreviveram ao genocídio foram violentadas. Da mesma forma a maioria das vítimas foram crianças,mulheres,idosos todos civis desarmados que viviam suas rotinas como agricultores,pequenos criadores de animais, crianças que viviam o seu mundo mágico e inocente, cujo pecado era pertencer a uma etnia tribal diferente de seus algozes que estavam treinados para a guerra.


Durante a violência , clérigos de várias denominações se posicionaram a favor de sua etnia. Padres, freiras, pastores e bispos tomaram partido em ambos os lados. Centenas de clérigos e freiras foram mortos por serem Tutsi, ou porque eram Hutus ajudando os Tutsi. Onde estava o espírito de solidariedade das nações mais ricas do planeta diante daquela histórica  barbárie?
Pior ainda, os massacres no coração da Europa, na Bósnia e em Sarajevo, com um genocídio de  civis desarmados determinado pela origem cultural,familiar e religiosa das vítimas em nome de uma "limpeza étnica" que aviltou a dignidade da raça humana em pleno século XX. Ao menos chegou depois de consumado o exterminio de milhares de civis, e neste caso, ajudou a cavar as valas comuns onde os mortos foram enterrados.
Qualquer historiador poderá afirmar com base em registros históricos que a evolução da humanidade foi marcada pelas catástroficas guerras e pela cultura do ódio entre as nações. 
Mas é necessário um grande esforço para compreender as intervenções selectivas  dos EUA e da Europa ,em conflitos internos, de nações divididas, sob o argumento da solidariedade e da "proteção aos civis desarmados". 

O que Sabra e Chatila no Líbano ,Bósnia e Sarajevo na Europa e Ruanda na Africa tinham em comum , para não terem a 
"'ajuda solidária" dos EUA? Não possuem reservas de petróleo!
Seria apenas uma coincidência?


Foi empunhando a defesa da "liberdade do povo subjugado pela tirania de Sadam Hussein" e para "destruir seu arsenal de armas de destruição em massa" que os EUA invadiram o Iraque ,em uma guerra que começou com  a  "exclusão do espaço aéreo" e terminou com uma invasão que matou duzentos mil civis iraquianos..


O Iraque é dono da 3ª maior reserva de petróleo do planeta e a Líbia é dona da maior reserva petrolífera da Africa.
Será que a solidariedade selectiva do ocidente é definida pelas riquezas dos países "ajudados"?   Afinal de contas ,como qualquer historiador ,também, pode afirmar, as guerras ao longo da história foram marcadas pela espoliação dos povos vencidos e pelo direito ao "butin" dos vencedores..
No caso da Líbia qualquer que seja o vencedor deste conflito interno, entre um tirano e sua gente, o perdedor será o povo Líbio, que a exemplo do Iraque, poderá perder o controle da prospecção e distribuição de seu petróleo para o exercito da "salvação" americano.
Quanto aos civis, vítimas de genocídio em outros países, a ausência de solidariedade e a ajuda das nações mais poderosas do mundo coincidiu com a ausência de petroléo em seus territórios.
Afinal,ao que parece, no jogo da diplomacia internacional a "solidariedade" custa muito caro e por isso é selectiva. 

  

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