segunda-feira, outubro 14, 2013

MARINA SILVA E O "PRAGMATISMO" RADICAL


Dona de uma trajetória politica apaixonante, Marina Silva conquistou respeito e projeção nacional mais pelo que não fez, do que por suas realizações como senadora e ministra. 

Não alcançou meta de redução do desmatamento na amazônia, como ministra da  pasta de meio ambiente do governo Lula;   perdeu as eleições para presidente pelo PV;  não consegue aprovar suas propostas na reforma do código florestal brasileiro e não conseguiu registrar seu novo partido, a REDE,  no prazo legal.   

Paradoxalmente,  seus insucessos atraíram simpatia de um segmento esclarecido do eleitorado, que vê "a poderosa mão invisível de forças ocultas" contra uma mulher de origem humilde,  defensora dos povos da floresta, das nações indígenas e do meio ambiente - bandeiras adormecidas no consciente coletivo dos brasileiros -.   Pregando a sustentabilidade contra o modelo produtivo hostil ao patrimônio ambiental, Marina Silva, se credenciou como alternativa ao sistema politico vigente que ela chama de "velha republica"
 
As posições da ex-senadora se confrontam com os interesses do "poder"?   Para formularmos respostas  a esta questão, precismos refletir sobre  conceitos de "poder" e governo".   
  
Os governos que comandaram o Palácio do Planalto nos últimos anos, criaram  e mantiveram as mesmas politicas econômicas  que regem as relações do mercado.   A polarização PSDB x PT não alterou os conceitos econômicos nem as estruturas que blindam os interesses das grandes corporações econômicas no Brasil.    Acima dos partidos está o "poder", que instrumentalizou os governos para manter e expandir seus interesses, entre eles a privatização de setores estratégicos da economia nacional e gigantescas remessas de lucro para o exterior. 
Governos são temporários, enquanto o "poder" é permanente e enraizado nas instituições da república.   Seus tentáculos, entranhados na máquina pública estão ancorados em leis casuísticas, construídas ao longo dos anos.    Este casuísmo na legislação eleitoral funciona como mecanismo de filtragem, assegurando a eleição de políticos "dóceis" aos seus mandos.  Ninguém chega ao Palácio do Planalto sem "bater cabeça" para o "poder" que Maria Silva chama de "velha republica". 

Hierarquizado e estruturado, o "poder" tem no topo da piramide o "Conciul On Foreign Relations"  (CFR) composto por cerca de novecentos a mil grandes empresas multinacionais.  O CFR formula e implementa estratégias politicas nos países do cone sul;  domina meios de comunicação; financia campanhas eleitorais,  golpes e contragolpes;  elege e destitui presidentes dos países alvo, de acordo com seus interesses mercadológicos.     Sua existência e seus métodos foram denunciadas no livro  "A Ditadura dos Cartéis - Anatomia do Subdesenvolvimento-" do empresário brasileiro de origem alemã Kurt Rudolf Mirow.  Mirow morreu de misterioso atropelamento em Bali em 1992 .
Em 1989 depois de ser derrotado por Collor, Lula visitou a sede do Conciul On Foreign Relaciones, em Nova York  para desmistificar sua imagem de "vermelho" e "inimigo dos patrões".   Depois de eleito voltou lá para prestar contas, como fizeram seus antecessores e sua sucessora. 
Washington DC: Dirigentes do Conciul On  Foreign Relacions na CasaBanca
Hoje, o candidato  Aécio Neves (PSDB) está nos EUA, suplicando as bençãos desta entidade para sua pretensão de ser presidente do Brasil.   Se apresenta como alguem "mais confiável"  aos donos do capital internacional e como oferenda  acena com a permissão para instalação de uma base militar dos EUA em território brasileiro e a conclusão do processo de privatização prevista no programa do PSDB que podem incluir a hidreelétrica de Itaipú, o Banco do Brasil e a Petrobras.  Aécio  proveita  a "brecha" no momento em que a presidente Dilma Roussef reage, contra a espionagem americana no Brasil, e adota um discurso em defesa da soberania nacional.

 O candidato Eduardo Campos não conseguiu ser recebido pelos dirigentes do CFR, mas implora uma agenda. 
Somente uma ruptura radical deste modelo politico possibilitará as mudanças que a sociedade brasileira almeja.    Foi está ruptura que Marina Silva encarnou para  o eleitorado que lhe deu 20 milhões de votos na última eleição presidencial.
Venezuela, Bolívia, Equador e  Argentina  relativizaram e enfraqueceram a influência do CFR.   Isso explica parte do processo de "satanização" dos líderes destes países pelas grandes corporações midiáticas incensadas pelas empresas filiadas ao CFR e orientadas pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, centro das decisões politicas desta engrenagem.
No entanto, em nosso país, o "poder" continua consolidado, subordinando o sistema e a classe politica brasileira ao seus interesses, apesar das reações de forças populares assentadas no governo Dilma e de algumas vozes isoladas do congresso nacional.
No Brasil, a FEBRABAN (Federação Brasileira dos Bancos) é um dos braços do "poder" e junto com um grupo de concessionários e empreiteiros financiam campanhas de candidatos com chances de vencer uma eleição presidencial.    Na cúpula da REDE, de Marina Silva, a FEBRABAN tem sua interlocução: Maria Alice Setúbal, herdeira e filha do falecido dono do banco Itaú, Olavo Setúbal.  Neca, como é conhecida, é responsável pela captação de recursos financeiros para a campanha da REDE.  Talvez estes vínculos expliquem o sentimento antagônico da ex-senadora  em relação ao ex presidente da Venezuela  Hugo Chaves.
O processo politico-administrativo-eleitoral brasileiro  criou dois tipos de políticos : Os ideológicos e os pragmáticos.  Os pragmáticos representam 99% da classe politica brasileira enquanto os ideológicos não passam de 1%.

Marina Silva pertencia aos ideológicos.

Capitulou! Seus sonhos parecem ter sido vencidos pela tentação do caminho mais fácil para alcançar o governo.   Aposentou o discurso da pureza ética e abraçou a "velha republica",  adotando o pragmatismo radical filiou-se ao PSB.   Chamou de "aliança programática" sua adesão a uma sigla  de conteúdo e programa partidário de pretensão "socialista" desqualificada pelos socialistas históricos do mundo, que lhe negaram o pedido de filiação à Internacional Socialista (IS), uma organização mundial de partidos socialistas e trabalhistas.    A IS já foi presidida pelo ex primeiro ministro de Portugal Mário Soares e pelo ex- governador Leonel Brizola,  líder brasileiro conhecido por criticar remessa de divisas para o exterior.  

Marina Silva  submete-se à tutela da"velha republica" e terá dificuldade de explicar aos seus milhões de seguidores uma aliança com Eduardo Campos, que desmatou 700 hectares de mata atlântica e destruiu mais de 500 hectares de manguezais como governador de Pernambuco.  O desprezo do presidente nacional do PSB pela preservação das riquezas naturais do estado que governa é tão barulhento quanto os explosivos, que usou para dinamitar recifes de corais com suas complexas e delicadas colonias de vida marinha em Suape, litoral sul do estado.  A justificativa do governador foi que precisava destruir o bioma marinho para forçar a passagem de navios.  
Ela embarcou neste navio, pilotado pelo governador de Pernambuco, que em seu primeiro mandato nem, ao menos, criou uma secretaria Estadual de Meio Ambiente.  A ex- ministra fez aliança "programática" com a face mais aguda de tudo que ela repudiava.   Eduardo Campos formou maioria na assembleia legislativa de Pernambuco distribuindo cargos e privilégios aos partidos que dão sustentação à seu governo.  Teceu uma rede de alianças que põe no mesmo barco o presidente da UDR Ronaldo Caiado e representantes tradicionais do "neoliberalismo" como a família Bornhausen.

Será uma viagem turbulenta pelas aguas calmas da "velha republica" .
Apenas, mais do mesmo!




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