sábado, junho 23, 2012

A Comissão Nacional da Verdade criada para apurar violação de direitos humanos por agentes do estado, bem que poderia ampliar suas atribuições e investigar crimes cometidos pelo estado de exceção contra os interesses coletivos de nosso municipio.  Da noite para o dia uma das mais belas paisagens da Baía da Guanabara, de riquíssima biodiversidade, área de preservação permanente, protegida pelo Código Florestal Brasileiro e constitucionalmente intocável, foi escolhida para ser o maior lixão da América Latina.  Falo do vazadouro de Jardim Gramacho, um dos mais emblemáticos crimes ambientais do último século, que violou a dignidade e o orgulho de milhares de duque caxienses, torturados até os dias de hoje, pelo gigantesco passivo ambiental que deixaram. 

Após mais de três décadas e com atraso de dez anos o lixão encerrou suas atividades.  Mas deixou um processo de degradação moral e um escândalo de dimensões iguais aos que permitiram sua criação. Sumiram com mais de R$ 140 milhões no edital de licitação do Biogás.
Durante a palestra "Territórios Sem Fronteiras - Duque de Caxias na Rio + 20 " - realizada no auditório do Museu Ciência e Vida, uma declaração revelou um golpe milionário contra os interesses de nossa cidade. No painel "Jardim Gramacho - Desafios para o Futuro",  Isaías Bezerra palestrante e gerente da Novo Gramacho Engenharia Ambiental, concessionária que explora o biogás no aterro, afirmou que o valor da outorga - dinheiro pago ao poder público pelo direito de exploração do biogás - era de pouco mais de R$ 12.900 milhões, pagos em parcelas anuais de R$ 1.800 milhão.

Ora, em 2006, após breve período de enfrentamentos judiciais, nossa cidade firmou acordo com a gestão do então prefeito carioca César Maia,  intermediada pelo vice Otávio Leite, que gerou a confecção de uma minuta de edital de licitação da COMLURB prevendo a arrecadação de R$ 156 milhões com a venda da concessão na área do lixão.   Onde está o restante do dinheiro?
O acordo previa a criação de um fundo com recursos  para prover a sobrevivência dos catadores, após o irreversível fechamento do aterro, e um repasse de 15% - R$ 23.400 milhões- convertidos para os cofres da prefeitura de Duque de Caxias visando a recuperação do bairro J. Gramacho.  

Ainda assim considerei o acordo injusto, uma vez que a área degradada é pública situada em nosso território, nascida da subserviência de interventores nomeados pela ditadura que governavam a cidade e acataram o olhar preconceituoso da "elite" do antigo estado da Guanabara, em relação á Baixada Fluminense.   Ao avocar para si o dinheiro da venda da concessão e dos direitos sobre os créditos de carbono, a cidade do Rio de Janeiro queria levar luxo por ter despejado lixo.  Isto era inaceitável.  Minha atuação no episódio foi esvaziada, de forma velada, até me afastar das negociações.

Por mais de 30 anos cerca de 300 carretas da COMLURB desfilaram pela Av. Monte Castelo, derramando chorume ao longo de uma via onde vivem e brincam crianças, hoje portadoras dos maiores índices de doenças infecto-contagiosas e doenças respiratórias da região.  O Intenso tráfego de caminhões causou trepidações e rachaduras em casas e imóveis comerciais além de trágico saldo de mortes por atropelamentos.  À luz do bom censo, os R$ 156 milhões previstos com a venda dos direitos de exploração do biogás, deveriam ser investidos em sua totalidade na recuperação ambiental do bairro, ressarcimento dos proprietários de imóveis afetados, indenizações aos familiares dos mortos em atropelamentos e principalmente em investimentos consequentes com projetos de qualificação profissional, geração de renda e emprego para os catadores. 

Mais do que isso, á luz do direito, este dinheiro pertence á população de Duque de Caxias já que a degradação ocorreu em área de 1.300m² pertencente ao INCRA - Instituto Nacional de Reforma Agrária - doado em operação ilegal e nebulosa à FUNDREM.  A COMLURB não possui a titularidade sobre a área.

A cidade do Rio de Janeiro, assume postura hipócrita adotando uma especie de "síndrome de Demóstenes Torres", quando duas personalidades antagônicas se completam e locupletam.  Buscam um selo de qualidade ambiental sob os holofotes da Rio + 20, ostentando o fechamento de um lixão que eles mesmos criaram e foram os maiores beneficiários.  O Prefeito Eduardo Paes ( PMDB),  deveria pedir perdão público acompanhado de um ressarcimento financeiro ao município de Duque de Caxias pelos criminosos danos causados pela COMLURB aos moradores de nossa cidade.  O entorno do aterro continua degradado e seus moradores esquecidos em meio a este vergonhoso legado. 

É preciso uma investigação rigorosa dos critérios que estimaram o valor da concessão. Há que se ter uma explicação convincente que justifique esta absurda diferença, entre o que foi estimado e o valor irrisório realizado. Onde está o dinheiro para recuperação do bairro Jardim Gramacho?  A verdade precisa vir à tona.  De quem é a responsabilidade por este golpe milionário, que subtraiu recursos financeiros essenciais para evitar o caos eminente, por conta do lixo espalhado nos 4 distritos de Duque de Caxias?  A Procuradoria Geral do município tem á frente o Dr. Francisco Rangel, um dos maiores juristas deste estado, e pode mobilizar o corpo jurídico da prefeitura reivindicando os inalienáveis direitos de nossa cidade sobre a venda dos créditos de carbono.  O fechamento do aterro do Jardim Gramacho evitará, na próxima década, a emissão de 75 milhões de toneladas do gás metano, 22 vezes mais pesado que o CO² o que poderá gerar uma arrecadação de mais de 100 milhões de reais na bolsa e créditos carbono.  

É hora de aposentar os factóides midiáticos do Secretário de Meio Ambiente, gladiador com inimigos   invisíveis e medos imaginários que vê nos cidadãos indignados com o lixo acumulado na porta de suas casas.  O golpe financeiro contra nossa cidade é real e pode se repetir de forma vergonhosa por conta na nossa omissão. A falta de local para destinação final dos resíduos é ameaça real e precisa ser tratada com a seriedade que falta ao gestor público.  

Abdul Haikal - Diretor Executivo da empresa Gestão Energética (energias renováveis) foi vereador constituinte( 1988-1992) Sub-Secretário de Serviços Públicos e Secretário de Transportes de Duque de Caxias.

2 comentários:

  1. SUA DENÚNCIA É MUITO IMPORTANTE E SÉRIA,O GRANDE PROBLEMA SÃO AS PESSOAS QUE UTILIZAM CARGOS PÚBLICOS EM INTERESSES PRIVADOS.
    TIVE A GRANDE OPORTUNIDADE DE PARTICIPAR DA PALESTRA NO MUSEU DE CIÊNCIA E VIDA NA ÚLTIMA QUARTA-FEIRA(20/06) À TARDE E PUDE OUVI-LO FALANDO TAMBÉM, SOBRE A QUESTÃO ENERGÉTICA E A SUSTENBILIDADE NAS CIDADES.FOI UMA TARDE PROVEITOSA,EM QUE, ATRAVÉS DE SEU DISCURSO, OBTIVE INFORMAÇÕES QUE AINDA NÃO SABIA.ASSIM,GOSTARIA QUE, SE PEDESSE,COLOCASSE EM SEU BLOG MATÉRIAS SOBRE A QUESTÃO DA EXISTÊNCIA DE UM FUNDO NO BNDS DESTINADO A FINANCIAR PROJETOS EM FUNÇÃO DA SUSTENTABILDADE ENERGÉTICA, ENERGIA LIMPA E REDUÇÃO DE CONSUMO.FIQUEI INTERESSASA E GOSTARIA DE SABER MAIS SOBRE O ASSUNTO.DESDE JÁ,AGRADEÇO E PARABENIZO SEU TRABALHO E TRAJETÓRIA COLOCANDO-ME A DISPOSIÇÃO PARA FUTUROS CONTATOS SOBRE ASSUNTOS COMUNS.A PALESTRA FOI MUITO RELEVANTE E IMPORTANTE!
    DAYSE ALVES.

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  2. Dayse, obrigado por me honrar com a sua participação e comentário. Vou seguir sua sugestão e oportunamente repetir o assunto da eficiència energética com enfoque nas práticas de sustentabilidade que podemos e devemos adotar no municipio. Os recursos financeiros estão no "Proesco" programa do BNDES voltado ao financiamento de projetos específicos de conservação de energia e na "verba Aneel" fundo setorial que usado para eficientização da iluminação pública, entre outros.
    Abs

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