sexta-feira, maio 07, 2021
VEREADOR: ENTRE UM PROJETO DE PODER OU UM PROJETO COLETIVO.
Ao tomar posse, o vereador enfrenta o primeiro dilema: usar o mandato para criar
um projeto de poder, ou seja pensar e atuar para garantir sua reeleição desde o
1° dia do exercicio do mandato, ou, por um projeto coletivo usar o mandato a
serviço do interesse do conjunto da cidade. Na maioria das vezes são duas coisas
opostas e antagônicas. Mais de 90% dos vereadores fazem a opção pelo projeto de
poder cujas dinâmicas alimentam a corrupção sistêmica entranhada no sistema
político, administrativo e eleitoral brasileiro. Quem opta por um projeto de
poder aceita as regras de um jogo marcado pela falta de limites éticos onde vale
tudo menos perder a eleição. Neste jogo tanto a “esquerda” como a “direita”
transformam discursos e retóricas moralistas e ideológicas em exercicio cínico e
cênico de hipocrisia. A mentira, os truques e a enganação induzem eleitores
incautos e desinformados a acreditarem que “o vereador asfaltou a rua”,
“reformou a escola”, o posto de saúde ou a praça. Ao optar por um projeto de
poder o vereador trabalha para criar guetos eleitorais que em um passado recente
eram chamados pelos políticos de “currais eleitorais”. Assim, entre votar contra
uma mensagem que reduz investimentos públicos na saúde ou educação (prejudicando
dezenas de milhares de pessoas de toda cidade), e, por exemplo, ter permissão do
prefeito para subir no palanque durante a inauguração de uma rua asfaltada em
seu bairro o vereador prefere posar ao lado do prefeito ostentando um documento
sem efeitos legais chamado “indicação” para induzir o eleitor a acreditar que é
de sua autoria uma obra exclusiva do poder executivo. Ao fazer isso o vereador
corrompe as atribuições de um dos três poderes da república que é o poder
legislativo. Isto porque, como não existe almoço grátis, o vereador, que tem as
obrigações constitucionais de fiscalizar a execução do orçamento e fazer as
leis, acaba se subordinando ao poder executivo. COMO SE ORGANIZA A ADMINISTRAÇÃO
DA CIDADE? A República brasileira foi construída com a separação de poderes
pensada por Montesquieu depois do fim das monarquias absolutistas. Seguindo este
princípio a Constituição Federal do Brasil determina que a administração pública
brasileira é regida por três Poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, que
são independentes e harmônicos com funções e atribuições distintas. OS
MUNICÍPIOS Os municípios são administrados por 2 poderes distintos com
competências e atribuições diferentes cujos membros são eleitos pelo povo. O
prefeito, chefe do executivo, é eleito para recolher o dinheiro dos impostos e
fazer obras e o vereador é eleito para FISCALIZAR, conferindo se o dinheiro
gasto, a qualidade dos produtos, materiais, equipamentos e serviços correspondem
aos preços contratados e cuidando para que o dinheiro não seja desviado pelos
secretários e pelo prefeito. Os escândalos de roubo de merenda das crianças nas
escolas públicas, da falta de equipamentos de proteção (EPI) nos hospitais, que
matam médicos, enfermeiros e técnicos que lutam na linha de frente da covid-19 e
a tragédia de mais de 400 mil mortos pelo vírus só ocorreram porque milhares de
vereadores pelo Brasil afora vereadores fecharam os olhos e permitiram desvios
em troca de vantagens eleitoreiras. Os vereadores ajudam a matar as vítimas do
COVID-19 em suas cidades ao se omitirem, sentando no colo dos prefeitos, deixam
de cumprir suas. Os vereadores são fiscais escolhidos pelo povo. Quando eles
anunciam seus nomes em faixas penduradas nas obras da prefeitura, demonstram
indícios de que estão prevaricando de suas funções. Para comprovar que estão se
corrompendo é necessário que o eleitor confira seus posicionamentos nas votações
das sessões na Câmara municipal. Além das benesses eleitoreiras recebem dinheiro
para pagar seus cabos eleitorais e cargos para seus familiares. Mas a raiz,
muitas vezes involuntária, desta corrupção sistêmica está no ELEITOR que por
desconhecer as verdadeiras funções de um vereador exige dele coisas que são
atribuições exclusivas do prefeito. Isso quando não pede dinheiro, caminhão de
barro, jogos de camisa de futebol, patrocínio de churrascos, empregos e favores
pessoas de todo tipo. Esta cultura política alicerça a corrupção sistêmica nas
cidades que se caracteriza pela utilização do mandato eletivo em benefício de
reduzido grupo de pessoas no projeto de poder para atender guetos eleitorais em
detrimento dos interesses do conjunto da sociedade. Na década passada esta
corrupção sistêmica ganhou dimensão e poder eleitoral nos famigerados “centros
sociais”. Ofereciam remédios, fisioterapia, exames clínicos,etc,etc. Eles foram
responsáveis por crimes eleitorais, desvios de remédios das unidades públicas de
saúde, desvio de pessoal, de equipamentos e toda sorte de crimes contra a
administração pública. Em troca, os mandatos serviram para promover o desmonte
de políticas públicas na área de transporte, educação e saúde, aprovando a
terceirização dos serviços públicos. Deram aumentos nos preços das passagens de
ônibus, entregam milhões do dinheiro dos nossos impostos para empresas privadas.
O resultado disso se traduziu, na sua forma mais dramática, na morte de milhares
de pessoas antes e durante a pandemia. Apesar do câncer “centros sociais” ter
sido proibido há anos, os efeitos nocivos de suas práticas, que eternizam a
“gratidão” de alguns eleitores até os dias de hoje, dão sustentação eleitoral
para a corrupção dos princípios institucionais. Como a população não acompanha
as despesas o vereador negocia nos bastidores ocultos do poder a autorização
para gastos milionários dos quais o “asfalto da rua” não representa 1% das
despesas. O vereador passa um “cheque em branco” para o prefeito, em troca das
migalhas que vão garantir a satisfação de seu eleitor, seu projeto pessoal de
poder e sua reeleição. Incapaz de analisar e hierarquizar a relevância de suas
necessidades, o eleitor festeja a inauguração de uma praça ou o asfaltamento de
uma rua e, depois que terminam os discursos, a banda de música vai embora, os
vizinhos desfazem o bolinho de conversa na “rua nova” ou na “praça bonita”, se
recolhem cheios de alegria. Mas quando entram em casa se deparam com a solidão
de sua realidade, sem fogos de artifício,vivem a falta de renda, de um programa
de saúde, de educação de qualidade para seus filhos, e muitas vezes da falta de
alimento na sua mesa, sem se dar conta de que abriram mão de tudo isso em troca
do asfalto na rua. Para subir no palanque do prefeito no dia da inauguração o
vereador permitiu que milhões de reais do dinheiro público fossem desviados.
Dinheiro que poderia ser investido para salvar vidas, gerar renda e combater a
fome. O vereador, pressionado pelo imediatismo de seu eleitor abre mão de suas
obrigações se submete aos caprichos do prefeito que passa a legislar sobre
conselhos municipais, aquisição de empréstimos e contratos milionários
suspeitos, criação de cargos, criação de cabides de empregos, o estatuto dos
funcionários públicos, das leis dos Planos Diretores, bem como de outras
matérias previstas pela Lei Orgânica do Município. Todas as atribuições do poder
legislativo. Então para garantir sua eleição e de seu grupo de vereadores o
prefeito compromete o dinheiro de nossos impostos com empreiteiras, fornecedores
ou prestadores de serviços que, depois da posse, se apropriam do orçamento da
prefeitura. Em troca dos favores do prefeito que domina o poder legislativo
ordena que os vereadores a legislarem em favor dos poderosos. Use a internet
para confirmar as afirmações deste artigo.
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